terça-feira, 31 de março de 2009

Primeira seleção européia

Estimados leitores,

Apesar de já ter dito aqui várias vezes que minha passagem pela Europa seria diferente de todo o resto da rota ao redor do globo, achei por bem fazer um planejamento mais minucioso, ainda que passível de mudanças ao longo do caminho.

Nos próximos posts pretendo dividir minhas angústias e minha ignorância com você, caro leitor, tentando estabelecer um rumo interessante e factível para minhas andanças pelo Velho Mundo.

De cara assinalei um monte de lugares que me interessam. Obviamente não há tempo hábil para cumprir tal trajeto em apenas dois meses e meio. Optei por começar no exagero e ir limando aos poucos. De cara já rodadam Malta, Varsóvia, Helsinque e Sarajevo.

Segue a primeira lista:

  1. Lisboa
  2. O Porto
  3. Madri
  4. Granada
  5. Barcelona
  6. Dublin
  7. Edimburgo
  8. Londres
  9. Paris
  10. Monte Carlo
  11. Roma
  12. Florença
  13. Veneza
  14. Milão
  15. Zurique
  16. Amsterdã
  17. Oslo
  18. Estocolmo
  19. Kopenhaguen
  20. Hamburgo
  21. Berlim
  22. Praga
  23. Viena
  24. Budapest
  25. Zagreb
  26. Atenas
  27. Tessaloniki (ou outra cidade ou ilha grega)
  28. Istambul
  29. Bucareste
  30. São Petesburgo
  31. Moscou

É necessário eliminar pelo menos sete destinos, senão estarei fazendo minha própria excursão Vovó Stella - 20 países em 15 dias...

Sugestões são bem vindas.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Retomando a rota

Após um período onde este blog tergiversou por vários assuntos alheios ao planejamento objetivo desta viagem de volta ao mundo, retomaremos amanhã nossa rota, agora pelo continente europeu.

domingo, 29 de março de 2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

Uma brisa de desespero

Vai-se o terceiro mês deste ano de 2009.

Começo a sentir intensamente as consequências práticas e psicológicas deste projeto de volta ao mundo.

O tipo de vida que levo - sem carteira assinada, sem garantia de porra nenhuma, obriga-me a fazer escolhas cruciais de tempos em tempos. Também é este tipo de vida que me mantém vivo dentro de algum grau de sanidade.
Para mim não é novidade estar em constante zigue-zague por entre múltiplas possibilidades de epifanias.
O fato novo é o tempo, a antecedência, a data da partida.

Imagine, caro leitor, todas os aspectos práticos e minúcias dessa insana empreitada. Junte isso ao fato de estar realizando outros projetos concomitantemente, além de ter que garantir o argent de poche (que não é pouco...) pra pagar minhas contas.

Eu estou bolando uma estratégia de viabilização financeira deste projeto que, em breve, será explanada aqui neste blog. Posso adiantar que é uma estratégia pouco ortodoxa, uma vez que é remota a possibilidade de conseguir dinheiro com a antecedência necessária através de patrocínios via leis de incentivo e afins.

É justamente pela heterodoxia do método de obtenção de recursos que vou tentar implantar que resolvi me garantir pelas vias mais normais. Hoje liguei para a gerente do meu combalido banco. Pedi um empréstimo de cem mil Reais. Ela disse que para emprestar cem mil o banco exigia muitas garantias mas que, de repente, ela poderia conseguir me emprestar 50 mil.

Alguém aí conhece outro gerente de banco?

quarta-feira, 25 de março de 2009

terça-feira, 24 de março de 2009

Uma estranha cidade

Estou em São Paulo.
Apesar de ter pessoas muito queridas aqui, além de quase todos meus familiares, sempre sinto-me meio estranho nesta cidade.

Há muito perdi a conta das vezes em que tinha combinado jantar, beber, colocar o papo em dia com um velho amigo paulista e acabei voando para o aeroporto a tempo de pegar o último vôo para casa.

Minha prima Clarisse, sempre que vou pra SP, deixa o quarto de hóspedes preparado e perfumado para mim. Eu, que não chego aos pés da elegância dela, ligo de Congonhas, de dentro do avião, às vezes do Santos Dumont e ela já atende o telefone rindo enquanto eu, enrubescido, peço desculpas.

Não deixa de ser uma forma de matar as saudades...

segunda-feira, 23 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

Caranguejo-ermitão

Hoje, decorridos 81 dias do corrente, constatei que não saí do Rio de Janeiro nenhuma vez este ano.

Pode parecer paradoxal, mas no fundo sou meio ermitão, como esse caranguejo aí embaixo.



Amanhã vou para São Paulo e volto no dia seguinte.
Big fucking deal.

sábado, 21 de março de 2009

sexta-feira, 20 de março de 2009

Uma medíocre reflexão sobre as vantagens da vida nômade



A maior vantagem de ser nômade é não ter vizinhos.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Spanish Bombs

De Portugal, vou para a Espanha.



Spanish songs in Andalucia,
the shooting sites in the days of ’39.
Oh, please leave, the VENTANA open.
Federico Lorca is dead and gone:
bullet holes in the cemetery walls,
the black cars of the Guardia Civil.
Spanish bombs on the Costa Rica -
I’m flying on in a DC-10 tonight.

Spanish bombs; yo te quiero infinito.
Yo te quiero, oh mi corazón.
Spanish bombs; yo te quiero infinito.
Yo te quiero, oh mi corazón.

Spanish weeks in my disco casino;
the freedom fighters died upon the hill.
They sang the red flag,
they wore the black one -
but after they died, it was Mockingbird Hill.
Back home, the buses went up in flashes,
the Irish tomb was drenched in blood.
Spanish bombs shatter the hotels.
My señorita’s rose was nipped in the bud.

Spanish bombs; yo te quiero infinito.
Yo te quiero, oh mi corazón.
Spanish bombs; yo te quiero infinito.
Yo te quiero, oh mi corazón.

The hillsides ring with “free the people” -
or can I hear the echo from the days of ’39
with trenches full of poets,
the ragged army, fixing bayonets to fight the other line?
Spanish bombs rock the province;
I’m hearing music from another time.
Spanish bombs on the Costa Brava;
I’m flying in on a DC-10 tonight.

Spanish bombs; yo te quiero infinito.
Yo te quiero, oh mi corazón.
Spanish bombs; yo te quiero infinito.
Yo te quiero, oh mi corazón,
oh mi corazón,
oh mi corazón.

Spanish songs in Andalucia:
mandolina, oh mi corazón.
Spanish songs in Granada, oh mi corazón,
oh mi corazón,
oh mi corazón,
oh mi corazón.


Joe Strummer / Mick Jones (1979)

quarta-feira, 18 de março de 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

Essa História Dava Um Filme

A quem interessar possa: não exerço mais a função de diretor e apresentador do programa "Essa História Dava Um Filme".
Foi quase um ano e meio de trabalho na formatação e realização da série de 14 programas que foi exibida entre setembro e dezembro de 2008.

Agradeço imensamente aos artistas convidados, à Conspiração Filmes e, sobretudo, à mui leal equipe que verteu sangue, suor e lágrimas na realização dessa enorme tarefa, sofrendo, ralando, se fudendo, ganhando mal, brigando, batendo cabeça, esperneando, aguentando um psicopata como eu, mas também criando, se divertindo, bebendo, fumando e rindo pra caralho.
Sem vocês, não teríamos feito nada.

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Vai ser foda...

Apenas dois meses e meio na Europa.
Decidir para onde ir e quanto tempo ficar em cada lugar, até seguir viagem, vai ser uma eterna escolha de Sofia.

domingo, 15 de março de 2009

Os países da Europa e suas capitais*

Albânia - Tirana
Alemanha - Berlim
Andorra - Andorra-la-Velha
Armênia - Yerevan
Áustria - Viena
Azerbaijão - Baku
Belarus - Minsk
Bélgica - Bruxelas
Bósnia e Herzegóvina - Sarajevo
Bulgária - Sófia
Chipre - Nicósia
Croácia - Zagreb
Dinamarca - Copenhague
Escócia - Edimburgo
Eslováquia - Bratislava
Eslovênia - Liubliana
Espanha - Madri
Estônia - Tallin
Finlândia - Helsinque
França - Paris
Geórgia - Tbilisi
Grécia - Atenas
Holanda - Amsterdã
Hungria - Budapest
Irlanda - Dublin
Islândia – Reykjavik
Itália - Roma
Letônia – Riga
Liechtenstein - Vaduz
Lituânia - Vilnus
Luxemburgo - Luxemburgo
Macedônia - Skopje
Malta - Valeta
Moldávia - Chisinau
Mônaco - Montecarlo
Montenegro - Pogdorica
Noruega - Oslo
País de Gales – Cardiff
Polônia - Varsóvia
Portugal - Lisboa
Reino Unido - Londres
República Tcheca - praga
Romênia - Bucareste
Rússia - Moscou
San Marino - San Marino
Sérvia - Belgrado
Suécia - Estocolmo
Suíça - Berna
Turquia - Ankara
Ucrânia - Kiev
Vaticano - Vaticano

* Esta lista é um pouco controversa. Algumas fontes colocam a Armênia, a Geórgia e o Azerbaijão como países asiáticos. Há ainda vários territórios insulares como Gibraltar, Jersey e as Ilhas Aland e países com reconhecimento parcial de soberania, como a Ossétia, Kossovo e a Abkhazia.

sábado, 14 de março de 2009

Europa



Dois meses e meio na Europa.

Onde ir?

Onde não ir?

Estou pensando...

Alguma sugestão?

sexta-feira, 13 de março de 2009

3G da Claro, que bosta!!

Se você quer retroceder dez anos, compre um 3G da Claro, garantia de Internet movida à lenha.

O único consolo que me traz o nefasto aparelho é me fazer pensar em todas as dificuldades de conexão que vou ter mundo afora.
Internet é luxo, meu camarada.

Cogitei a possibilidade de comprar um telefone via satélite, que pega em qualquer ponto do globo. Além de caro é um trambolho e há controvérsias sobre sua eficiência como transmissor de dados.

Enquanto isso sigo à passos de cágado.

quinta-feira, 12 de março de 2009

39

Hoje faço 39, no Rio de janeiro.

Ano que vem faço 40, na Cidade do México.

Estão todos convidados.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Festa



Festa amanhã, na Praça Mauá.
Sacadura Cabral 53 - Bar do Aurélio. 8pm. Do lado do Kalesa.

Espero todos lá!

terça-feira, 10 de março de 2009

Uma resolução.

Estou tendo que tomar importantes decisões profissionais nos últimos dias.

Dilemas afloram.

Eu, que sou Lacaniano - e consequentemente Freudiano, acredito que a cura vem da verbalização. Eu só consegui parar de fumar (15 anos consumindo três maços por dia) quando verbalizei que "o cigarro é meu melhor amigo, e ele morreu. Vou ter saudade dele a vida inteira, mas não há nada que eu possa fazer. É cruel, mas com o passar do tempo essa saudade diminuirá."
Bingo. Nunca mais botei um cigarro na boca.

Ontem à tarde eu recebi uma obscena proposta profissional. Fiquei deprimido e neste estado fui até a abertura de uma exposição onde encontrei amigos muito queridos e gente importante que admira o meu trabalho.
Voltando embriagado para casa tomei a resolução:

De agora em diante só trabalho onde me valorizam e com quem me valoriza.
Ponto final.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Meus pensamentos são feridas no meu cérebro.

O meu cérebro é uma cicatriz.
Eu queria ser uma máquina,
Ter pernas para andar,
Braços para tocar,
Mas sem dor - ou seja,
Sem nenhum pensamento.



Hamletmachine - Heiner Müller

domingo, 8 de março de 2009

Não quero ser o Amyr Klink

Hoje, Dia Internacional da Mulher, tive um pensamento: não quero ser o Amyr Klink.

Admiro muito o nosso explorador solitário. Uma vez filmei uma palestra dele na convenção de uma grande empresa num resort em Santa Catarina. Fiquei realmente emocionado com os relatos de suas incríveis viagens. Quando a palestra de mais de duas horas terminou minha cabeça estava cheia de reflexões sobre perseverança, planejamento e realização.
Pensava em tudo isso enquanto me dirigia ao banheiro masculino que estava lotado. O comentário geral dos executivos e subalternos da empresa era, "pô que cara esquisito, ficar um ano sem mulher, no meio de focas, baleias e o caralho... ah, sei não..."

Pois é, vou ter que me virar pelo mundo...



L'Origine du Monde - Gustave Courbet

sábado, 7 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Da Paraíba para o mundo

Em 2003 eu fui conhecer a cidade onde eu nasci: Campina Grande, Paraíba.

Nasci lá por acaso, em 1970. Meu pai e minha mãe tinham casado há pouco tempo e ele, engenheiro, foi transferido para Campina Grande, para a construção de uma estrada unindo várias pequenas cidades do Brejo Paraibano. Aí eu nasci, a estrada ficou pronta poucos meses depois, e fomos para Manaus, onde meu bravo pai foi trabalhar na Transamazônica, a estrada que leva o nada a lugar nenhum. Era a época do milagre brasileiro, quando a ditadura fez várias obras Brasil afora. Muitos filhos de engenheiros e de milicos passaram pelo mesmo que eu, nasceram em algum inóspito recanto do país e ficaram pingando de cidade em cidade pelos anos 70, sem ter qualquer laço cultural ou de parentesco com a terra natal.

Quando eu vim morar no Rio, em 1977, depois de passar por Manaus, Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo, descobri que "paraíba" era um xingamento, pelo menos na escola burguesa e nojenta onde me colocaram. Meu irmão mais novo me chantageava: "se você me bater eu vou contar na escola que você é paraíba". Eu pensava que, com tanto lugar no mundo, era muito azar ter nascido logo na Paraíba.

O tempo passou e eu comecei a achar legal ser paraibano. Nem preciso dizer que fiquei amigo de um monte de porteiros e garçons. Cheguei a ganhar algumas apostas de gente que não acreditava que um descendente de árabes, com 1,86 metros e mais de 100 quilos pudesse ser natural da Serra da Borborema.

Havia porém uma lacuna, eu não conhecia a minha cidade natal.

Em 2003 eu ganhei um prêmio da Petrobras para fazer um vídeo de cinco minutos. O meu projeto era simples. Munido de uma pequena câmera de vídeo eu desembarquei em Campina Grande sem ter ninguém me esperando no aeroporto, sem reserva de hotel, praticamente sem nenhuma informação prévia sobre o que iria encontrar, a não ser o que eu havia coletado em uma breve entrevista com meus pais, realizada uma semana antes da partida.
Na ocasião eu perguntei para eles porque tinham ido morar em Campina Grande, qual o hospital onde eu havia nascido, quem era o médico que fez o meu parto e onde era a casa que a gente morava.
Munido dessas informações pescadas no fundo da memória de minha mãe e meu pai, 33 anos depois desembarquei em Campina Grande para uma estada de seis dias.



Quando voltei da Paraíba fiz o curta de cinco minutos para a Petrobras, já sabendo que o material gravado na viagem (17 horas ao todo) renderia um produto maior. Comecei então o processo de editar um longa-metragem.

Esta semana recebi uma boa notícia, ganhamos o edital do OI Futuro para finalização e lançamento do filme.
"O Paraíba" terá sua estréia ainda este ano.

De certa forma o processo de realização deste trabalho serviu como ponto de partida para que eu elaborasse e formatasse essa viagem de volta ao mundo.
Uma viagem solitária onde a documentação do dia a dia funde-se com aspectos psicológicos a partir da própria experiência pessoal de realizar a viagem em si.

Ah, sei lá...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Lisboa na cabeça

Encerrada a votação, com 18 votos apurados, ficou assim o resultado de nossa enquete:

Em primeiro lugar, Lisboa, com 9 votos. A capital lusitana largou na frente e venceu de ponta a ponta com 50% dos votos.

Empatadas em segundo lugar, Londres, Paris e Zagreb, cada uma com 3 votos (16,66%)

Sendo assim, seguindo o desejo da maioria, no dia 15 de abril de 2010 parto de Montreal, no Canadá, para Lisboa, assim definida como nosso ponto de entrada na Europa.


Torre de Belém. Cabral partiu de lá.
Deu no que deu...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Estou me sentindo tão abandonado pelos meus amigos, que seu eu possuísse uma canoa e um papagaio, seria o próprio Robinson Crusoé em sua ilha.

Vinha sofrendo calado o impacto da decadência deste blog.

Primeiro o Carnaval e a óbvia queda de audiência. Meus leitores são todos uns bebuns, filhos de Baco, como eu. Graças a Deus, uma vez que não é meu intuito escrever para gente careta.

Em seguida o baque do "zero comentários".
Caralho, ninguém comenta mais nessa porra - pensei com meus botões.
Eis que me avisam que tentaram comentar e não conseguiram. Daí descubro que o blog estava com um bug que impossibilitava a postagem de comentários.

Oh, mundo...
Fiquei alugando minha analista, com a auto-estima no ralo - "ninguém me ama, ninguém me quer... escrevo para o nada e ninguém... esse blog é um fiasco, etc, etc, etc."
Quem disse que ser analista é mole. Ela fica ouvindo, acordadinha da silva - e muda, as minhas lamúrias. E olha que a última sessão que eu paguei foi em setembro...

Bem, estimados leitores e calipígias leitoras, o problema da publicação dos comentários já foi sanado.
Comentem, por favor!
Ah, e ainda faltam algumas horas para o fim da enquete popular (aí do lado, no canto superior direito da página).

O título deste post vem, eu acho, de um conto de Eça de Queiróz. Digo "acho", porque não consegui uma confirmação no Oráculo de Delfos, e se não está no Google, provavelmente não é verdade...
De qualquer forma a frase é boa, né?



Nesta gravura, Robinson Crusoé, além da canoa e do papagaio, tem também um bode.
Bééééééééééééé

terça-feira, 3 de março de 2009

Antonella



Esta é a nova habitante de minha casa: Antonella, 2 meses, vira-lata, instinto implacável de caçadora.



Sua performance com o rato de brinquedo é sensacional.

Baratas, tremei!




Falta apenas um dia para o fim do escrutínio (adoro essa palavra...) sobre o ponto de entrada na Europa.

Cidadão, vote! (aí do lado, no canto superior esquerdo da página)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Pânico no Jardim Botânico

Está fazendo um mês que me mudei para um apartamento de frente para o Parque Lage (melhor dizendo, praticamente dentro do Parque Lage), um pequena floresta no bairro do Jardim Botânico, aqui no Rio de Janeiro.

Morar perto da mata é gratificante, mas há alguns poréns. Primeiramente a umidade, uma tragédia para um alérgico-sinusitoso como eu, amenizada com a compra de um desumidificador. O outro problema são os insetos.

Na minha primeira noite aqui percebi que teria que chegar a um acordo junto aos meus indesejados visitantes invertebrados. Eu tenho pânico de praticamente todos os insetos; até mesmo uma singela borboleta pode me causar calafrios. Imagine então os seres mutantes que insistem em me fazer companhia.

Nos primeiros dias tudo transcorreu bem. Cheguei até a tirar fotos de alguns bichos escrotos com o intuito de afirmar este incrível processo de superação psicológica, como no caso da cigarra aí embaixo.




Até que ela apareceu...



Quinta-feira passada foi uma noite de extremo terror, aqui em casa.

A ameaça veio do ar, voando pesadamente com suas longuissimas antenas, qual o "Enola Gay" se aproximando de Hiroshima.

Não consegui matar a invasora.
Capitulei rapidamente, refugiando-me no quarto. Só consegui dormir após a ingestão de várias gotas de um poderoso ansiolítico.

De fato, ela sumiu... e reapareceu ontem, três dias depois. Acho que era a mesma, não posso acreditar que existam no mundo duas baratas daquele tamanho.
Aí um filha da puta vem e me diz que "barata, se não matar, fudeu. Ela põe ovos e nascem milhares de filhotes!"

Desesperado, tomei uma decisão. Arrumei um gato. Estou indo pegá-lo hoje.
Nunca tive gato antes, mas confio que terei um grande caçador convivendo comigo.
Quem sabe eu não levo ele pra Índia, Camboja, Laos, Vietnã, Tailândia, Etiópia, Angola, Nigéria, etc.?

domingo, 1 de março de 2009

Lisbon Revisited (1923) - Álvaro de Campos

Lisboa saiu na frente em nossa enquete (aí do lado, no canto superior esquerdo desta página).

Este factóide motivou-nos a prestar uma singela homenagem.



Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.


Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...