terça-feira, 5 de maio de 2009

V for Verônica

Uma de minhas poucas leitoras deixou um comentário muito significativo que transcrevo abaixo.

"Samir, eu sou mochileira. Tava pesquisando e escrevendo sobre Volta ao Mundo qdo encontrei seu blog. Meu, você pretende viajar em qual categoria? A, B, M, ou F...? Pelo q vi nos seus primeiros posts, a viagem tá com um valor muito alto. Iria uma equipe com vc? Já pensou em fazer um Lonely Planet de verdade, sem apoio? Tudo bem, vc podia ter alguém aqui te respaldando, mas acho q dá pra vc fazer uma viagem bem legal e divulgável de uma forma mais possível à população. Algo que alguém visse e dissesse, "pô, eu tenho essa grana! É só vender meu carro!" Fica até mais atraente. Bom, só queria dizer. Tô torcendo pra q dê certo seu projeto. V for Verônica "

Antes de responder à moça, dei uma investigada e descobri que ela tem um blog sensacional chamado "Viaje que te ajuda!".

Bem, Verônica, primeiramente devo dizer que sinto-me extremamente lisonjeado por seu acompanhamento deste projeto. Também devo dizer que estou em crise com tudo isso, justamente em questões relativas à obtenção de grana para a viagem e tal. Eu não sou um mochileiro comme il faut. Apesar de ser durango, prefiro mil vezes um hotel cinco estrelas a um albergue. O que não quer dizer que eu não ficaria em um albergue, ou mesmo no meio da rua, se for o caso. Tudo vale a pena quando o assunto é sair por aí, mundo afora. Eu imagino minha viagem como um grande projeto artístico fundamentado na própria experiência pessoal de fazer a viagem em si, e na produção de conteúdo durante o trabalho. Sim, encaro isso como um trabalho, mas, apesar de ser fudido, luto há muitos anos para poder fazer o que gosto e portanto, não trabalhar, afinal de contas Confúcio já dizia que o homem que faz o que gosta, não trabalha.

Justamente por ser um projeto artístico, a viagem está prevista para ser realizada ao longo de um ano, começando em 1º de janeiro e terminando em 31 de dezembro. Quero explorar meu próprio sentimento de solidão, euforia e exaustão durante este período. Daí o projeto de fazer um planejamento extremamente minucioso da viagem, deixando muito pouco espaço para mudanças de plano repentinas, causadoras que seriam de um verdadeiro efeito dominó, como já comentei aqui no blog.

Vou viajar sozinho. Sou o próprio cavalo em que monto. Sou minha própria equipe, filmando, fotografando e escrevendo diariamente. Estarei coletando material para duas exposições, escrevendo um blog, escrevendo um livro e realizando um pequeno vídeo a cada semana (gravando, editando e transmitindo para exibição).

Sobre grana...
Não tenho mais carro, dei ele pro meu irmão na enésima vez em que fui achacado pela polícia.
Eu acho super válido, e penso na possibilidade de viajar sem grana. Ocorre que muito do conteúdo que eu pretendo produzir na viagem (exposições, peças para TV, etc.) é similar a projetos que realizei remuneradamente nos últimos anos. Já tive um blog num site com um milhão de acessos por dia (Globo On Line), um programa de TV (Essa História Dava Um Filme - Multishow), fiz exposições em espaços importantes (Oi Futuro, CCBB) e galerias de arte.
Sendo assim acho que eu tenho alguma chance de conseguir um apoio.
Acho, pois essas coisas são muito imprevisíveis.

Apesar de não ter publicado a rota completa aqui, eu já tenho um esboço para os 365 dias. São 57 países, não é brincadeira. Muitas coisas caras estão previstas, como uma ida às Ilhas Galápagos, uma excursão ao Alaska para ver a Aurora Boreal, acima do círculo polar Ártico, o Expresso Transmanchuriano entre Moscou e Pequim, uma visita às Ilhas Cook, no Pacífico, um passeio de balão na África, etc, etc, etc.
Se eu deixaria de ir por não ter grana para ter todos esses "highlights"? Claro que não! Agora, minha proposta é fazer um planejamento minucioso que inclua tudo isso. Ainda nem comecei a orçar o projeto, mas pretendo ter um valor real para o empreendimento, e tentar arrumar essa grana. Se não conseguir, parto para um plano B, como escrevi aqui poucos dias atrás.

Eu acabei de ler um livro maravilhoso, que eu já tinha há muitos anos, mas só agora pude lê-lo de cabo a rabo: "O Último Lugar Da Terra". de Roland Huntford (Cia das Letras). O livro conta a competição entre Amundsen e Scott pela conquista do Pólo Sul. Em suas 700 páginas, é traçado um paralelo entre a preparação e a determinação nórdica de Amundsen, e a velha fleugma britânica de Scott. Preparação, conhecimento, estratégia. É assim que eu pretendo fazer essa viagem.

Tenho 39 anos. Vi que você tem 35. Não tenho mulher, nem filhos. Imagino que você também não tenha filhos...
"Nada me prende a nada. Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo." Esses versos de Álvaro de Campos são uma quase verdade na minha vida. Comecei a perceber que sim, estou preso a pelo menos uma coisa, à minha própria carreira. Essa viagem, portanto, além de todo o caráter de uma verdadeira epifania, não pode estar dissociada de meu trabalho. Como meu trabalho diz respeito à minha própria experiência pessoal, basta partir, desde que dentro de um fundamento profissional que acaba fundindo-se com o próprio desejo pessoal de ter essa experiência única.

Vinha sendo muito tentado a simplificar e minimizar a viagem que eu idealizei. Agora, tomei a decisão de ir até o fim no planejamento dessa viagem "ideal", mesmo que nunca a realize.
Se, de fato, a viagem planejada e preparada neste blog não acontecer, no mínimo terei um livro chamado "Preparativos Para Uma Viagem De Volta Ao Mundo".

E a partir daí, quem sabe não vou fazer outra viagem de volta ao mundo?

4 comentários:

  1. Fala Samir! Passei por aqui de novo... dando aquela olhada... tive umas idéias bizarras... umas campanhas para doações on-line heheh abraço
    henrique

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  2. De mochila,e sem nada que nos prenda a gente vai longe. O negócio é não ter nada a perder :-)
    A solidão em certos momentos da nossa vida é necessária bebê.

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  3. Meu,
    mandei um e-mail pra vc pq escrevi demais.

    Tudo do melhor,


    V for Verônica

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  4. Bravo, Samir! Avante e sempre!

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