quinta-feira, 4 de junho de 2009

Impressões de uma viagem ao Japão - parte 3

Uma tensa viagem:

Acionei meu primo que, por sua vez, acionou a Folha de São Paulo, a embaixada do Brasil em Tokyo, a puta que o pariu, para tentar evitar a tragédia que seria ir até o Japão e não entrar.

Encarar sozinho uma viagem de mais de 30 horas de duração com a perspectiva de dar com os burros n'água e voltar no primeiro vôo de volta era realmente perturbador.

Meu complexo trajeto até o outro lado do mundo foi percorrido da seguinte forma:

1 - Vôo Rio / São Paulo
2 - Cinco horas de espera no terrível Aeroporto de Guarulhos
3 - Onze horas e 40 minutos de vôo até Los Angeles
4 - Três horas de espera na sala de trânsito do Aeroporto de Los Angeles
5 - Onze horas e 18 minutos de vôo até Tokyo. Esta etapa final da viagem é toda percorrida sob a luz do dia.

Você chega em Tokyo, literalmente, moído. E com um fuso horário de doze horas na cabeça.

A tensão foi ininterrupta. Durante toda a viagem tive que lidar com meu cansaço e ansiedade extremos diante da possibilidade aterrorizante da praga da cônsul realmente se consumar.

O avião pousou as três da tarde no Aeroporto de Narita. O trajeto da aeronave até a imigração foi, talvez, o mais tenso da minha vida. Sentia-me um condenado caminhando para o cadafalso. Na fila que se formou diante dos guichês da imigração, percebi que suava nas mãos a ponto de manchar o verde-oliva do passaporte.

Com o coração saindo pela boca dirigi-me ao funcionário japonês. Entreguei o passaporte com a mão trêmula. Ele abriu o documento, virou as páginas lentamente, digitou algo no computador, olhou para mim, olhou de volta para a tela, pegou o carimbo e Voilá!!

A sensação de alívio foi indescritível!

Sentei num banco, acendi o primeiro cigarro desde Los Angeles (sim, em 1999 havia áreas para fumantes no Aeroporto de Narita) e todo o cansaço da viagem dissipou-se imediatamente.

Em seguida peguei minha mala e prossegui até a fiscalização alfandegária. No Japão toda bagagem é aberta e revistada por funcionários de luvas brancas. Inicialmente o funcionário, que com certeza não fala mais do que duas palavras em inglês, mostra um livro com os itens proibidos. É bem didático, tem fotos de um baseado, carreiras de pó, seringas, maços de dólares, diamantes, armas, etc. O pitoresco são as fotos de capas de filmes e revistas de sacanagem.
É, prezado leitor, uma simples Playboy é impedida de entrar na terra do Sol Nascente, logo lá onde a imaginação para a putaria não encontra limites.

Como eu não portava nenhum dos itens proibidos, estava até achando graça da revista. Eis que o funcionário pega duas fitas VHS sem rótulo, com apenas o box preto, como era naqueles tempos pré DVD. Tratava-se de meu portfolio de vídeos, que levava para meu primo ver. O alarmado guardião da moralidade pátria olhou fixamente para mim e bradou ameaçador: - "Porrnôôôôô!!" eu comecei a rir e falei "nô pornô!" ele inquiriu-me novamente: "Porrrrrnôôôôôôôô!!" aí chamou um superior que começou a falar japonês comigo. Depois de um tempo e do emprego de uma ou duas palavras em inglês sofrível, ele me fez entender que era para eu esperar enquanto ele via as fitas.
Quando ele saiu com o material suspeito houve um último momento de tensão. Eu tinha dirigido com meus sócios, na época, o pior videoclipe da história, de uma música chamada "Boquete", do Funk'n Lata. Pelo nome dá pra perceber o teor da obra-prima. Naquele momento eu não lembrava se o "Boquete" estava no portfolio.

Dez minutos depois o funcionário voltou sorridente, me entregou as fitas e balbuciou algo como "werocome for your company!"

A praga da cônsul não pegou...


Máquina de venda de revistas de sacanagem, em Tokyo.

Entrar no Japão com material pornográfico é proibido.
Já comprar lá...

4 comentários:

  1. Tensos momentos em alfândegas quando se viaja sozinho para países com idiomas 'não familiares'. Tive uma situação semelhante, quando fui - sozinha e sem falar o idioma- para a Polônia e com escassos dólares e sem cartão de crédito.Primeiro, os funcionários do aeroporto são militares, uns polacos grandões e sérios,dá um certo medo, principalmente quando se é mulher e sozinha e ainda brasileira. Ok, malas 100% reviradas e a complicação, com o sofrido inglês polaco, foi o decalque emborrachado da sola do meu sapato. Mas basta falar em inglês pausado - mostrar melhor- alguma garrafa de cachaça brasileira, que os problemas terminam. Resumo da ópera: a cachaça salva.

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  2. Cachaça e, principalmente, camisas da seleção brasileira (de camelô, é claro)são salvo-condutos fundamentais em boa parte do mundo.

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  3. Boa dica, Samir! Como não pensei nisso antes? bem, talvez pq eu não seja muito ligada em futebol. Começo desde já, a comprar algumas camisetas da seleção brasileira - de camelô sim!- para a próxima viagem.

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  4. Um ponto importante que não deve ser esquecido com as camisetas: cortar as etiquetas. Caso contrário, pode ocorrer o que vivenciei quando comprei presentes para os amigos, nas lojinhas baratas de Paris, pagando em euros, lembrancinhas da cidade. Ao entregar os presentes alguns amigos viram etiquetas e perguntaram 'não sabia que tu tinhas ido para a China'. Bem,não tinha ido para China, a China veio até mim, via Paris.

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